sábado, 19 de maio de 2012

Os Jovens de Hoje Já Não Têm Educação?

 




 1) "A nossa juventude adora o luxo, é mal-educada, goza com a autoridade e não tem o menor respeito pelos mais velhos. Os nossos filhos hoje são verdadeiros tiranos. Eles não se levantam quando uma pessoa idosa entra, respondem a seus pais e são simplesmente maus."

        2) "Não tenho mais nenhuma esperança no futuro do nosso país se a juventude de hoje tomar o poder, porque essa juventude de hoje é insuportável, desenfreada, simplesmente horrível."

        3) "O nosso mundo atingiu seu ponto crítico. Os filhos não ouvem mais os seus pais. O fim do mundo não pode estar muito longe."

       4) " Essa juventude está estragada até ao fundo do coração. Os jovens são malfeitores e preguiçosos. Eles jamais serão como a juventude de antigamente. A juventude de hoje não será capaz de manter a nossa cultura."

        Provavelmente, todos os leitores adultos que acabaram de ler estas últimas frases, poderiam um dia ter feito estas afirmações, ou, no mínimo, as considerar muito atuais, certo? O mais curioso é que estas afirmações já foram feitas há alguns aninhos atrás e não foram apenas os nossos pais e os nossos avós que as poderiam ter proferido. Foram citadas no início de uma conferência por um médico inglês Ronald Gibson, com a concordância de toda a plateia. A admiração surgiu quando o médico referiu a origem dessas afirmações. Vejam só as datas de cada uma delas:
        1) A primeira é de Sócrates (470-399 anos a.C.);
        2) A segunda é de Hesíodo (720 a.C.);
        3) A terceira é de um sacerdote do ano 2000 a.C.);
        4) e a quarta estava inscrita num vaso de argila descoberto nas ruínas da Babilónia e tem mais de 4000 anos de existência.

       Depois de ler estas frases, revejo-me muitas vezes a dizer estas palavras, provavelmente num ato de inconsciência ou de uma inscrição genética que se manifesta quando atingimos a idade adulta. Geração após geração, esta "lamúria" tem andado de boca em boca, como se de um conflito de gerações se tratasse.  Parece que estamos a culpabilizar os nossos jovens... parece que são os tempos de hoje que provocaram alterações comportamentais das nossas crianças e jovens. Na realidade, o fator "tempo em que vivemos", nada tem a ver ... e a prova disso é que há muitos milénios que o Homem anda a dizer estas coisas... Será o fator tecnologia? Também não... embora possa ser mais um instrumento que, mal utilizado ou utilizado sem controlo, pode potenciar essas alterações de comportamento...
        De repente surge-me outra citação bem antiga, desta vez de Pitágoras, esse grande matemático grego que viveu entre os anos de 571  e  496 a.C:  "Educai as crianças, para que não seja preciso castigar os adultos"! Para mim, os grandes responsáveis pela falta de educação dos nossos jovens, somos nós adultos... Eu não imagino nem acredito nas crianças entregues a si próprias em busca da sua educação. Falo daquela educação básica e estruturante que qualquer filho deve trazer de casa de forma a poder encarar a vida em sociedade, respeitando-se a si próprio e respeitando os outros. Toda a criança que cresce sem conhecer o amor e sem conhecer limites, torna-se numa criança potencialmente perigosa para si e para os outros, sendo uma "peça" que poderá não encaixar no "puzzle" chamada sociedade! Quantos e quantos pais, desabafam comigo enquanto professor, e dizem "Já não sei o que poderei fazer mais pelo meu filho!". Chegando à puberdade, o adolescente necessita de marcar a sua posição e criar o seu bocadinho de mundo, precisa de uma identidade... Se os modelos que demos até então, não foram baseados no amor e nos limites, meus amigos... a vida tornar-se-á muito mais difícil para os filhos, para os pais, para os professores... podendo aquele bocadinho de mundo perder toda a sua cor, todo o seu brilho...
        Às vezes penso... poderei estar a falar de amor e este assumir diferentes conceitos para cada amigo leitor. M. Scott Peck, no livro "O Caminho Menos Percorrido" define AMOR como "a vontade de expandir o Eu com o objetivo de alimentar o seu próprio desenvolvimento espiritual ou o de outrem"... "o AMOR é uma ação, uma atividade... não é um sentimento." ... "é o meio para a evolução espiritual humana" ... " o que fornece o motivo, a energia para a disciplina".... O facto de Peck definir o Amor como uma ação, faz todo o sentido... No caso de uma mãe e de um pai, o sentimento de amor pelo filho é (deveria ser) um facto desde que este é concebido. Depois vem a ação, o verdadeiro AMOR, a verdadeira prova. Por outro lado, e como exemplo, nós professores... quantas vezes recebemos uma turma nova... não temos qualquer sentimento de amor por aqueles adolescentes (que ainda desconhecemos), mas agimos com amor..? O equilíbrio entre o AMOR do SIM (carinho, afetividade) e o AMOR do Não (do estabelecimento de limites), é algo que se vai conquistando, sendo muitas vezes, numa primeira fase, importante os alunos conhecerem os limites (quando em casa não os houve ou houve em excesso), para aos poucos chegarmos ao AMOR do SIM, do abraço, da partilha de AMOR como uma ação, como um intercâmbio, como uma construção mútua.
        Muitos acham que dizer sempre SIM, dar bens materiais, apenas facilitar a vida a uma criança é a melhor forma de amar! Não... por vezes temos de dizer NÃO, mostrarmos os limites, nem que para isso tenhamos de nos zangar e quem sabe, dar "um puxão de orelhas", numa situação limite! Este ano, tenho dado aos meus alunos, o exemplo daqueles pescadores da "Virgem do Sameiro" que estiveram à deriva no mar, numa balsa salva vidas, cerca de 57 horas. Num ato de desespero e de histeria, um dos pescadores quis se atirar ao mar. O Mestre, teve de recorrer à forma mais cruel da condição humana (a violência) e à força para o demover. Teve de lhe pregar uns estalos e amarrá-lo com uma corda... teve de o privar da liberdade... Para quê?... "Não queria perder aquele Homem". Sabia que se o deixasse ir... era uma vida que se perdia! Foi preciso um NÃO (neste caso cruel) para que o SIM, o SIM à vida e ao AMOR, não terminasse ali! Este é um ato de amor... que não vem nos compêndios e que provavelmente, algum desses doutores de craveira repugnaria. Deixavam-no ir? Era?  Penso que todo aquele que tem um mínimo de honestidade intelectual, percebe que com este exemplo não digo que AMOR é violência... O que quero dizer é que AMOR, por vezes, também é uma acto de impor limites a uma criança, nem que para isso seja necessário "bater o pé". Eles precisam tanto deste amor como o amor de uma abraço! É imprescindível o equilíbrio entre ambos...  Se os deixarmos crescer ... sem conhecerem o AMOR e os Limites inerentes ao mesmo, um dia poderão ser forçados a conhecê-los de algemas em punho! Infelizmente, é assim que está organizada a sociedade... e não há que fingirmos e fazermos de conta que o Amor são apenas as corolas de  um "mar de rosas", pois essas rosas têm um cálice que une todas as pétalas que, por sua vez, está seguro por um pedúnculo e por um caule. Deste caule brotam espinhos e não há que os escondermos dos nossos filhos, dos nossos alunos. O AMOR não é apenas a rosa... é toda a roseira, culminado no fortalecimento da sua raiz.
        Dá-me imenso prazer encontrar ex-alunos e partilharmos histórias dos momentos que passamos juntos... Por vezes, embora me custe muito, tenho de ser "durinho" para com os meus queridos alunos. Até hoje, e passados uns anos, todos agradecem-no. Um desses ex-alunos (da turma percurso curricular alternativo 2007-2009 - ver post http://serounaoserverdade.blogspot.com/2011/12/acreditar-nos-sonhos.html) deixou, na minha caixa de "Facebook" a seguinte mensagem, a qual registei como mais um ato de Amor: "O verdadeiro amigo não é aquele que diz sempre sim a tudo o que queremos ouvir. O verdadeiro amigo é aquele que se impõe ao que acha errado. Obrigado por tudo stor". J.G.
        O AMOR, a Educação Básica, começa na família. O Ato de AMOR deve existir entre todos os  elementos da família e, como exemplo, a começar no casal - pai e mãe (quando a criança tem a sorte de ter uma família estruturada). Kahlil Gibran em "O Profeta" diz, relativamente ao amor de um casal:

        "Mas que haja espaços na vossa união, e que os ventos dos céus dancem entre vós.
        Amai-vos um ao outro, mas não façam do amor um elo.
        Deixem-no antes ser um mar que se move entre as praias... das vossas almas.
        Encham a taça um do outro mas não bebam só duma taça.
        Dêem do vosso pão um ao outro mas não comam... do mesmo pão.
        Cantem e dancem juntos e alegrem-se, mas deixem que cada um esteja só, tal como as cordas de uma harpa estão sós embora vibrem com a mesma música.
        Dêem os vossos corações, mas não para que cada um os guarde.
        Porque só a mão da Vida pode conter os vossos corações.
        E mantenham-se juntos, mas não demasiado próximos: porque os pilares do templo estão afastados; e que o carvalho e o cipreste não cresçam na sombra um do outro."

        Estas palavras de Gibran, adaptam-se a meu ver, a quaisquer que sejam os elementos de um agregado familiar...

        Termino este post com um poema, que a minha tia Sãozinha guardou "religiosamente" e me enviou há dias, que eu escrevera e fora publicado num jornal, quando tinha 14 anos... Não é nada de especial é apenas um poema sobre o AMOR:

        "VALERÁ A PENA?"

       "Valerá a pena?
         Talvez não,
         Talvez sim!
         Tudo depende do coração!

        É o olhar,

        É o sorriso...
        É sonhar
        E tudo o que for preciso!


       Com certeza que sabem do que falo.
       Não é gostar,
       Não é pobreza, nem riqueza...
       Mas Sim, Amar!"

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