Os pais estão cada vez mais preocupados a respeito
do futuro de seus filhos, hoje em dia a família não mais se sente
auto-suficiente para administrar a educação de seus filhos, é comum que
busquem ajuda em programas de TV, no ciclo social, e principalmente,
encarem a escola como uma parceria na formação dos filhos em todos os
aspectos educacionais. As expectativas que os pais têm da escola são
inúmeras, mas pode-se resumir dizendo que os pais esperam que a escola
reforce aquilo que eles ensinam em casa, e ainda preencha as lacunas que
eles, pais, não se sentem capazes (e talvez realmente não sejam) de
preencher. Hoje é motivo de preocupação para os pais questões que antes
eles podiam resolver simplesmente ocultando dos filhos, ou impondo-lhes
uma dita “verdade” ou simplesmente proibindo-os, tais como questões de
religião, etnia, ideologia, classe e etc. hoje passaram a ser tema de
debate que não pode ser mantido fora do diálogo entre pais e filhos bem
como da sala de aula. Temas que obrigam os pais a “saber” tratar, e que
faz com os pais se preocupem em como a escola vai tratar.
A relação entre os pais e filhos mudou, pois mudou a família, tomando
novas formas através de divórcios e segundos casamentos, madrastas e
padrastos, meio-irmãos, irmãos dos irmãos e primos que não tem relação
consangüínea, “pais de fins-de-semana”, mães que trabalham fora de casa,
e por isso não podem manter a mesma dedicação à Educação dos filhos
como a anos atrás, e diversas outras “novidades” que atualmente são
corriqueiras na vida das crianças. Aumentou o nível de preocupações dos
pais e também o número de coisas que eles tem de considerar, os jovens
hoje estão expostos a uma diversidade de informações e de “perigos” que
antes não existiam.
Os valores e as tradições educacionais estão em contínuo processo de
transformação, porque a sociedade é dinâmica e a “verdade” efêmera. Não
se pode mais acreditar numa solução unívoca que atenda a todas as
demandas educacionais que se tem hoje em dia, os pais e as escolas agora
têm de se adaptar ao movimento da sociedade, buscando encontrar
caminhos para preparar as crianças para o futuro, para isto tem-se que
enfrentar a polêmica e encarar as possibilidades de caminhos que podem
variar de formas conservadoras, até reacionárias, a formas
revolucionárias.
Não importa o quão tradicional seja a educação que se pretende dar aos
filhos, não se tem como ignorar os processos de formação da
personalidade individual, bem como os mecanismos afetivos, destacar
apenas o comportamento observável de uma criança ou adolescente
acarretará num sério problema de comunicação entre pais e filhos que
pode levar a drásticas surpresas.
O comportamento não é controlado apenas por suas conseqüências, então o
uso de recompensas e de punições para induzir o comportamento desejado,
pode levar ao estabelecimento de uma relação de troca onde deveria haver
uma relação de afeto e confiança. Os pais de todo mundo lançam mão
desta idéia, e passam a reforçar o estímulo para a Educação criando
várias formas de punição e também de recompensa, se utilizam desta
técnica para obter um “bom” comportamento dos filhos, ou seja, um
comportamento condicionado, obediente, mas fácil de lidar.
Isto ocorre até hoje dentro de famílias modernas e dos estabelecimentos
de ensino, mesmo se sabendo que esta é uma visão sectária, não levando
em conta todo o processo interno ao sujeito (não observável) mas de
grande valor na formação da personalidade. Uma rígida disciplina parece
ser o caminho para o sujeito de comportamento “bem educado”, então a
disciplina é a obrigação dos educadores (pais ou professores), pois é o
que permite a aprendizagem. Contudo, mesmo não questionando a
importância de por limites ao comportamento, afinal, a vivência em
comunidade impõe esta condição, o controle autoritário do comportamento
ignora a individualidade dos sujeitos, ignora a possibilidade de
diferentes respostas a um mesmo estímulo. Entretanto, como é uma técnica
de emprego fácil e que muitas vezes pode dar rápidos resultados, ou
pelo menos resultados aparentes, se torna uma grande tentação para o
educador, só que estabelece uma relação autoritária, não recíproca e
que, se não receber outras formas de comprometimento, pode se tornar
hostil, principalmente na adolescência.
É por este motivo que este tipo de Educação vem sendo cada vez mais
criticada, e tem perdido espaço para novos experimentos que se preocupam
com a formação do caráter, com o saber ser apreendido, assimilado e
refletido, com desenvolvimento da individualidade ou mesmo da
humanidade. O respeito aos pais é construído sinceramente, sem que seja
forjado pelo medo.
Por isso, no final dos anos 70, os pais da classe média passaram a
questionar o tipo de educação que receberam, vale lembrar que eles
haviam passado por processos de liberação sexual, luta contra a
ditadura, crítica a censura, intenso contato com teorias psicológicas,
novas teorias pedagógicas e outras coisas, que faziam eles questionarem a
validade de se manter uma relação tão apartada com seus filhos,
impondo-lhes a aceitação de tudo de forma arbitrária, através da força.
Os pais de classe média mais “liberais” foram os primeiros a procurar
por uma valorização do lado humano, afetivo, criativo, consciente e
experimentador da infância e da adolescência, mas, anos mais tarde,
tiveram de deparar com uma realidade não muito animadora, que é a
deficiência de se controlar e de impor limites que permitam aos filhos
uma boa convivência social e uma boa colocação dentro da sociedade,
nenhum pai quer que seu filho se sinta excluído.
Gravidez precoce, abandono dos estudos, uso de drogas, prostituição,
violência, brigas, pequenos crimes entre outras coisas são preocupações
constantes dos pais, suas maiores dúvidas são saber como conduzir os
filhos por um caminho onde estas coisas estão presentes, tendo de
protegê-los e ao mesmo tempo de prepará-los para o enfrentamento, como
explicar sem manipular, como afastar sem coibir a liberdade, ou seja,
como impor limites, informar, esclarecer, cuidar, aceitar os riscos e
amar, tudo na medida certa, medida esta que é totalmente desconhecida
dos pais e dos filhos. Os objetivos dos pais estão ligados a preparar o
filho para a “vida”, dando-lhe confiança, criatividade e iniciativa, há
uma grande preocupação com a formação do caráter e de um comportamento
ético, mas não esquece da necessidade de adequação às exigências do
mercado de trabalho e da comunidade, condições de sobrevivência, que
ainda apresentam cobranças muito “tradicionais”.
A adolescência é, em especial, um período de muita instabilidade para as
pessoas, pois nela ocorrem diversas transformações hormonais que mexem
não só com o corpo, mas também com a mente. Após os 11 anos, o
pensamento já atinge um certo nível de abstração, então a percepção
passa a ser também subjetiva, o que permite ao adolescente fazer uma
reflexão crítica das coisas, nesta hora, os pais, que se esforçaram em
dar condições aos filhos de questionamento da realidade, vão perceber
antes dos outros os primeiros resultados desse esforço, muitas vezes em
forma de um questionamento a respeito deles pais, o que não deve ser
encarado como algo negativo, e sim a nascimento de um novo projeto de
vida.
Entre os 11 e 12 anos, a puberdade está em latência, é comum aparecerem
distúrbios motores, afetivos, biológicos advindos deste novo contexto
sócio-afetivo. Até os 11 anos, a noção de grupo, de comunidade, de
ligações afetivas era baseada em coisas bem concretas (família, turma da
escola, turma da rua, etc.), após os 11 anos, a criança já possui novos
parâmetros (que só vão se ampliar) de relacionamentos, e a
identificação de grupo ao qual ela pertence se transforma.
Para optar entre estes novos parâmetros (que envolvem a postura
profissional, sexual, ética, empreendedora e tudo mais), os jovens levam
em consideração tudo que existe ao seu redor que eles começam a
perceber, separam os que mais parecem lhes satisfazer e daí pesam os
prós e os contras de cada um, levando em conta não só a vontade própria,
como também a opinião dos pais, que tem um valor fundamental afetivo.
Mas nem sempre a decisão final agrada aos pais (na maioria das vezes,
isto é causado simplesmente devido à “defasagem” ocasionada pelas
mudanças socioculturais entre a adolescência dos pais e a dos filhos,
sem que signifique realmente um motivo concreto para a preocupação dos
pais), daí ser comum o sentimento dos pais de querer impedir o
crescimento dos filhos no intuito de protegê-los, só que eles também
querem ver desenvoltas as aptidões individuais dos filhos e suas
personalidades próprias. Cria-se um paradigma paterno que espelha um
outro paradigma, o dos filhos adolescentes, que experimentam agudamente o
medo, a ansiedade e o sentimento de que perderam a infância para algo
que desconhecem, e ao mesmo tempo, vontade crescerem e de se afirmarem
como indivíduos.
Entretanto, muitas vezes, observa-se um comportamento esquivo em
adolescentes, tal como, querer dormir demais, ser muito tímido, não ter
ânimo para sair de casa ou fazer as coisas, comer absurdamente, ficar o
tempo todo jogando no computador, uso de drogas, ficar com a atenção
presa a TV, etc., mas este comportamento é uma fuga do paradigma que o
aflige. Da mesma forma, que muitos pais enchem seus filhos com “gordas”
mesadas, cedem-lhe às vontades, ou os matriculam em uma enorme
quantidade de tarefas extracurriculares, para fugir do mesmo paradigma.
Estes são, sem dúvida, comportamentos que fogem da tentativa de
comunicação entre pais e filhos, mas a comunicação com os pais é de
grande valor para os filhos, bem como suas opiniões lhes servem na
formação do caráter. Nada disso, vai fazer com que os filhos sigam
estritamente o que os pais lhe recomendam, contudo com certeza vai
influenciar suas ações e diminuir a angústia de ambos.
Pais e adolescentes sofrem com as mudanças que ocorrem nesta fase do
desenvolvimento humano (que vai dos 11 ou 12 anos até os 17 ou 18 anos),
a tarefa de saber como se educar já não é fácil, aliás, é uma
proposição suficientemente difícil em qualquer idade, nesta as
dificuldades são ainda maiores, mas exatamente por ser um período de
grandes mudança é que ele se torna um período muito fértil e criativo,
que pode desembocar em um relacionamento muito bom entre pais e filhos,
mas para isso, ambos tem de enfrentar o problema juntos, encarando as
dificuldades e respeitando uns aos outros, se comunicando sinceramente,
sem medo e sem julgamentos, apenas, honestas tentativas de ajudar.
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