sábado, 19 de maio de 2012

EDUCAÇÃO DEFICIENTE mostrará as deficiências, o sucateamento, o descaso, a indisciplina, a ausência de autoridade, os baixos salários, a insegurança e a violência que contaminam o ensino, a educação, a cultura, o civismo, a cidadania, a formação e a profissionalização do jovem brasileiro.

Defendemos uma política educacional multidisciplinar integrando os conhecimentos científico, artístico, desportivo e técnico-profissional, capaz de identificar habilidades, talentos, potencial e vocação para facilitar a escolha profissional e propiciar a sobrevivência com autonomia. A Educação deve ser uma bússola capaz de orientar o caminho, minimizar dúvidas, reduzir preocupações e fortalecer a capacidade de conquistar oportunidades, de profissionalizar, de exercer a cidadania, de enaltecer o civismo e de propiciar uma convivência social com qualidade, dignidade e segurança. Tudo começa na autoridade e valorização do professor.

segunda-feira, 11 de abril de 2011


CRIANÇAS E JOVENS DE HOJE NÃO SÃO IMORTAIS

Reflexão sobre o massacre no Rio. Wanderley Soares, O Sul, Rede Pampa, 10 de abril de 2011.

Embora haja a certeza da morte quando, ainda infantes, nos tornamos lúcidos e cientes de nosso livre arbítrio, não estamos preparados para este destino previsível e inevitável. No início da caminhada, somos e estamos monitorados unicamente para a vida. Tanto é assim que na infância e na juventude temos apenas uma vaga idéia do que seja a morte para os outros, pois para nós ela é impossível. As crianças e os jovens são imortais. Tudo se fortalece a cada dia. O físico, o intelecto, os amores, as paixões, a sexualidade estão num constante crescendo. Na primeira escolinha, residem nossas primeiras relações, nossos primeiros inimigos, nossos primeiros amores platônicos. Não sabemos bem o que é sexo, mas o tesão nos incendeia. Não sabemos o que é o amor e amamos. Não sabemos o que é ódio e odiamos.

Falo no entorno da minha geração. Saíamos de casa, por mais simples ou pobre que fosse ou mesmo por principesca que nos parecesse, em direção ao nosso primeiro templo com mestres de carne e osso. A escola. Em casa, sentávamos ao lado de nossos irmãos diante de nossos pais. Gente que tinha a nossa cara e o nosso cheiro. Orávamos diante de um mestre invisível. Na escola, éramos colocados em meio a criaturas estranhas, seres que nunca tínhamos antes visto. Nos primeiros recreios, encontrávamos quem morava na nossa rua sem saber de como estávamos colocados sob o mesmo teto, mas em espaços distantes. Assim começavam a ser definidas as nossas primeiras dificuldades e que cabia a cada um de nós resolvê-las. De nada adiantava mamãe saber a tabuada se eu não a soubesse.

Na minha primeira sala de aula deveriam habitar em torno de 40 crianças. Era um grupo escolar do Estado. Meninos e meninas de todas as etnias eram juntados sem nenhum preconceito. Brigas surgiam naturalmente e, naturalmente, havia o armistício e logo eram esquecidas. Todos usavam guarda-pó. Quem não pudesse comprar o uniforme, o Estado fornecia. Ao meu lado sentava uma menina portuguesa. Tinha a minha idade, mas era grande. Porém, ela era mulher e eu me sentia bem homem. Sei lá por qual motivo discutimos. A portuguesa trabalhava na horta de seus pais. Tinha braços e mãos fortes. Deu-me um tapa ao lado do ouvido. Não cai, mas o zumbido ainda hoje permanece em mim. Anos depois, no Exército, chamei um tenente R-2 de bunda-mole. Peguei uma cadeia e não fui promovido a cabo.

A professora de música foi a minha primeira paixão. A sua missão era ensinar hinos pátrios. Numa das aulas, ao piano, ela executou trechos de tico-tico no fubá, de Zequinha de Abreu. Pediu segredo sobre a falcatrua. Guardei o segredo como se fosse apenas meu. Todas essas aventuras eu vivenciei simplesmente por ter não saber o que era a morte. Na infância e na juventude, lembro outra vez, todos nós éramos imortais. Apanhei da portuguesa, não fui promovido a cabo, guardei o segredo de minha primeira paixão porque jamais pereceria por tais delitos. Hoje, no entanto, uma angustia profunda envolve meu coração de simples mortal. Tivesse eu de entrar naquela primeira sala de aula, teria medo. Hoje, as crianças e os jovens já conhecem os cadáveres de seus amiguinhos. Crianças e jovens de hoje não são mais imortais.

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