Os pais sonham com o melhor para seus filhos. Os perigos que rondam o mundo de hoje fazem os adultos terem medo pelo futuro dos jovens. Mas sonhar é preciso, preparar-se é imprescindível. A esperança e a coragem de ser – e não só de ter - devem sempre vencer o medo e as demais dificuldades que impedem as realizações.
O ser humano
é vocacionado para a esperança, para o amor, para o
humor e a capacidade de realização de coisas inteligentes.
A mãe grávida imagina que em breve a criança irá fazer
gracinhas, sorrir, espernear, fazer birra, dar trabalho,
aliás, muito trabalho. Mais tarde, ir para a escola,
enfrentar o vestibular, entrar numa faculdade, formar-se,
ter uma profissão, casar, ter filhos...
Os pais sonham
um grande futuro para os filhos, porque desejam o
melhor para eles. O sonho é forma imediata de
realização do desejo, disse Freud. Sonhos, tanto
os produzidos pelo do sono como os que temos quando
acordados, são necessários e fazem bem à alma. A vida,
ou melhor, a existência, precisa se alimentar
de sonhos, pois eles são portadores de nossos desejos
e esperanças. Uma parte dos sonhos se realiza na
produção das imagens próprias. Outra clama para ser
satisfeita na realidade objetiva (ler nota de
rodapé sobre esses conceitos, negritados)
[2]
.
Os projetos
pessoal e coletivo estão situados entre o sonho e a
realidade. Um projeto é sempre a expressão de um sonho
elaborado pelo pensamento visando materializar-se na
realidade. Sendo ainda inviável no momento, a materialização
de um bom projeto passa a ser sustentado por novas elaboração
e palavras, reforçando-o como “sonho-projetado”.
Sonhos coletivos e sonhos individuais
Martin Luther
King, num famoso discurso, em 1963, revelou seu sonho
de que "um dia os homens iriam acabar de vez com
os chicotes da segregação e as correntes da discriminação".
Júlio Verne, no final do séc. 19, teve uma visão - um
sonho - do homem indo até à Lua, o que só aconteceu
em 1969. Ambos morreram sem ver seus sonhos realizados.
Mas, Jucelino Kubitschek realizou de ver Brasília construída.
A revolução francesa, em 1789, e a revolução russa ou
bolchevique, em 1917, foram embaladas por sonhos de
melhoria radical na sociedade. Apenas uma pequena parte
desses sonhos foram conquistados na realidade. A Carta
dos Direitos Humanos, a Liberdade, a Igualdade e a Fraternidade
ainda estão na pauta das lutas diárias em todo o mundo.
Nos anos 70, o movimento “Paz e Amor”, conseguiu realizar o sonho de
acabar com a guerra do Vietnã, que terminou com as forças
armadas norte-americanas sendo expulsas daquele país,
então recém reunificado. No início do 3º milênio, a
invasão anglo-americana, no Iraque, obrigou o retorno
daquela consciência pacifista ativada em amplo protesto
global. No Brasil, o presidente Lula tem um sonho pessoal,
ora transformado em projeto de governo contra a fome.
Sonho difícil, projeto pouco elaborado, mas que precisa
ser realizado pelo esforço coletivo, para o bem de todos.
Pais sonhadores
hoje se queixam que a geração atual é muito individualista;
desistiu de sonhar projetos coletivos como nos anos
70, se preocupando apenas em realizar seus mesquinhos
sonhos pessoais de posse: ter um emprego, uma casa,
um carro e uma família pequena. Alguns fazem projetos
com os filhos apontando caminhos para realizar o seu
desejo, não se importando se pessoais ou sociais. Contudo,
somente os filhos é que poderão realizá-los. Às vezes
quebram a cara. Ambos melhoram a experiência de vida,
com diálogo e esforço.
Alain dizia
que: o esforço, a auto disciplina e a severidade fazem
os projetos pessoais serem materializados. “Aqueles
que recusam o método severo nunca valerão nada” (Alain.
Propos sur l’Éducation). O contrário, ou seja,
os mimos, dengos, paparicos ou adulações dos pais, somado
a escola mais voltada para distração do que para o trabalho
da razão, pouco ajuda na realização de projetos de formação.
Se uma criança deseja ser pianista ou cientista, é preciso
muito esforço pessoal, método próprio de estudo, muita
dedicação, perseverança, auto-disciplina, rigor dos
mestres, repetição para corrigir os erros, etc. Pais
sem limites que interferem no trabalho do bom professor,
forçando-o a ser menos rigoroso ou frouxo com o filho,
poderiam vir a estragar o futuro pianista ou futuro
cientista. Quero dizer que, pais sonhadores nem sempre
suportam serem acompanhantes críticos dos projetos dos
filhos.
Em si mesmo,
o sonho nada tem de realidade. Não é racional, é puro
desejo, imagem. Mas, se pensado, elaborado, pode virar
um "projeto" de como fazer para ser
possível convertê-lo em acontecimento real. Um “projeto profissional”, ou um “projeto
de vida", são sonhos mais elaborados, quase
prontos para serem concretizados na realidade. Muitas
pedras no meio do caminho precisam ser removidas para
sua concretização.
“Eu quero ser...”
As crianças
são profundamente afetadas pela perspectiva do futuro,
especialmente quando ouvem a pergunta "o que
você vai ser quando crescer" ? Nessa hora,
estamos não só fazendo-as tomar consciência de seus
sonhos, mas convidamo-las a falar sobre como, juntos,
podemos realizar seu sonho.
Os pais nunca
devem desconsiderar os sonhos, devaneios, projetos,
as perguntas dos filhos. Mesmo que
pareçam exagerados. Ou que mudem de idéia a cada
dia. Nosso interesse nos seus sonhos e projetos aumenta
a confiança e a capacidade de moldarem o seu próprio
futuro.
Joel Baker
em The power of vision, chama atenção para pesquisas
que compararam alunos bons dos fracos. Os melhores alunos
de uma sala de aula geralmente sabem o que desejam da
vida. Têm senso pessoal de controle sobre seu futuro
daqui a 5 a 10 anos. Os alunos de fraco desempenho quase
não têm idéia do futuro. Acreditam que o destino é que
sabe. A pesquisa constatou ser mais importante uma boa
perspectiva de futuro do que a própria inteligência
ou a pertença a uma família bem estruturada. Evidentemente,
tais fatores são importantes, mas ambos precisam de
orientação e preparo com vistas à realização
no futuro.
Também os
imigrantes de qualquer nacionalidade têm dupla vantagem
sobre os nativos: chegam à nova pátria com sonhos de
realização, trabalham muito suportando sofrimentos,
na crença de que o futuro será melhor que o presente.
Seus sonhos transformaram-se em projetos de vida nova
que fazem com que seus filhos cursem uma faculdade para
terem vida melhor que os pais e avós.
Escola e mídia na contramão da sabedoria
A escola e a universidade não ligam
para os sonhos. Dedicam-se a ensinar coisas sérias,
como ciência, os procedimentos de pesquisa, a aplicação
tecnológica, mas não "trabalham" os sonhos
dos alunos. A ciência aumentou o tempo de vida, melhorou
a saúde, aprimorou máquinas, etc., mas há algo que as
escolas e a ciência não sabem fazer: ensinar a sonhar.
"A verdade científica não tem o poder de gerar
sonhos", declara Rubem Alves (Entre a ciência
e a sapiência. SP: Loyola, 2001. Não é a ciência,
mas sim os sonhos que tem o poder de transformar indivíduos,
principalmente os de baixa auto estima e sem perspectiva
de futuro.
Os meios de
comunicação (principalmente a tv) com seus sonhos "prontos",
mesquinhos, grotescos, ora aterrorizantes, ora excessivamente
românticos ou eróticos, seduzem as pessoas. A grande
mídia parece estar preocupada em fabricar e impor os
seus próprios sonhos (em novelas, filmes, "um sonho
de princesa", na propaganda,
etc) visando dominação ideológica, que rejeita
o potencial criativo e diversificado delas sonharem
por si próprias.
Precisamos
respeitar os sonhos nossos e dos outros. Não somente
recordá-los, mas respeitá-los "escutando-os",
isto é, entender o seu sentido e desejo
subjacente. Se os sonhos apontam para o futuro, também
é necessário pensá-los se realizando no futuro porque
“é nele que um dia vamos passar o resto de nossas vidas",
declara Baker.
Os pais têm
papel fundamental nesse processo de elaboração do melhor
futuro, primeiro, respeitando e escutando os sonhos
de seus filhos. Depois, acompanhando-os no seu trabalho
de realização. No fundo, sonhar é tão importante como
realizar. Contudo, uma "educação de visão de futuro"
leva a sério a brincadeira de pensar "o que você
vai ser quando crescer?".
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